quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Futuro da Amazônia

Este é um texto que escrevi quando estava participando do curso de especialização em políticas públicas na Amazônia promovido pela Escola Nacional de Administração Pública em parceria com o MMA.
"O futuro da Amazônia depende da criação de um consenso nacional em torno do papel que a região deve desempenhar no desenvolvimento do país".

Antes mesmo de se afirmar que o futuro da Amazônia depende de um consenso nacional sobre sua importância, devemos analisar que a sociedade brasileira, não muito distante da mundial, ainda está bem incipiente quanto se trata de uma reflexão mais consistente, do ponto de vista técnico e científico, da representatividade dos ecosistemas na vida humana.
Ao voltarmos nossos olhares sobre outros importantes biomas, se é que existe algum que não tenha importância, veremos que as discussões ainda estão muito na disputa dos espaços territoriais, em que a questão fundiária se apresenta como pauta principal dos debates políticos, do a questão socioambiental em si.
Ainda amargamos a inclusão dos biomas caatinga e cerrado como patrimônio nacional, levamos décadas para aprovar legislação própria para a Mata Atlântica e ainda nem começamos a discutir seriamente os pampas e o pantanal. Este sob a pressão de usineiros de álcool e dos senhores da soja.
Autores como Leonardo Boff, que em seus últimos dois livros, publicados em 2008 (Homem: Satã ou anjo bom e Ecologia, Mundialização e Espiritualidade), abordam a questão ambiental de forma a incluir nessa temática as relações de gêneros e da própria condição humana, favorecem uma análise mais inclusiva dessa temática. Pois ao tratarmos de ambientes como o da Amazônia, devemos considerar os aspectos ambientais, culturais, sociais, econômicos e políticos. Pois, como o próprio autor diz “Ecologia ambiental se trata dos ambientes da natureza, de fauna e flora, dos ecossistemas e biomas. O ambiente social é o plano onde o homem convive e se integra com todos os seres vivos, fazendo parte dele, mas que precisa de cuidados especiais. Temos que cuidar uns dos outros. A ecologia mental se trata da espiritualidade, da consciência que o homem deve ter sobre a sua existência e a dádiva da vida. Por fim, a ecologia integral absorve todos estes conceitos, relacionando todos os seres vivos que habitam a terra. Neste plano, a vida é o maior valor a ser preservado”.
Tendo essa leitura das realidades locais e as dinâmicas que estão submetidas, podemos ter uma maior possibilidade de acerto em tomadas de decisões de políticas. Nesse sentido, antes de se buscar ter um consenso sobre a Amazônia, devemos consensuar o que queremos da vida, ou seja, respondermos perguntas que indiquem o que querermos consumir e como queremos produzir. Qual a real importância que damos aos diversos usos dos recursos naturais e quais nossas pretensões de construção de novos paradigmas que venham a substituir o atual modelo econômico hegemônico? Essas perguntas devem balizar esse debate. Se a Amazônia precisa de um consenso nacional para sua sobrevivência, quais as bases do modelo de desenvolvimento que queremos. Esta é sem dúvida uma pergunta chave. Portanto, a Amazônia, pela importância ambiental de escala mundial, deve ter políticas específicas, assim como todo bioma deveria ter, que considere todo o conjunto de sua sociobiodiversidade.